Todo objeto da natureza tem seu ciclo. Com a rosa, um dos
espécimes que mais sofreu mudanças no reino vegetal, não ocorre o oposto.
Ela é semente, torna-se broto, eclodem raízes, folhas, talo,
espinhos e, por último, seu botão desabrocha demonstrando suas pétalas de
variadas cores que, após o último estágio, se inicia o seu fenecimento.
A questão é que nem todas as rosas passam por todos as fases
que, como parte da natureza, deveriam passar. Muitas delas não desabrocham.
Não falo das rosas produzidas em massa, em campos de
concentração, que são comercializadas e, por isso, precisam desabrochar, com
uma data demarcada para seu nascimento e morte.
Falo das rosas de nossos quintais. De nossas casas, de
nossos dia-a-dia.
Aquelas que, muitas vezes, não temos ciência sobre a sua
ciência.
Aquelas que, por vezes, nascem na teimosia, pois ninguém as
planejou. Ainda teimam em viver, mesmo que, por vezes, muitos duvidem de que
sua existência passaria por mais de um dia e elas vão contrariando qualquer prerrogativa,
profecia ou juízo sobre a brevidade de sua vida.
É dessas rosas de que falo e alerto: muitas delas não desabrocham.
Elas morrem como botões, fechados em si mesmos.
Ou por falta de sol, ou por excesso de água ou sombra.
Ou por falta de nutrientes ou excesso de produtos químicos.
Ou ainda simplesmente por falta de cuidados simples, como
deixar um espacinho a mais para que elas possam desabrochar.
Elas morrem sufocadas dentro de si. Não conseguem deixar
explodir toda a potencialidade existente dentro do botão que as envolve –
beleza nula.
Quando, algumas delas conseguem desabrochar, elas
surpreendem aqueles que ousam olhá-las e testemunhá-las como o fenômeno mais
surpreendente da vida delas.
Suas pétalas surgem evidenciando cores carregadas de
vitalidade. Cada pétala que se deixa mostrar é um prazer aos olhos dos que
querem ver.
A rosa, ao desabrochar, cresce, e, por fim, deixa-se ver por
inteira, até a sua essência que ainda, por certo, guarda cores antes
inexistentes às vistas dos mais ousados.
Aí, ela cumpre um dos estágios, aparentemente, mais belos da
sua vida.
Alguns de nós, só a enxergamos nesse momento. “Há uma rosa
em meu jardim”. E o que fazemos? “Arrancamo-la para decorar nossa sala de
estar.
Ela se torna uma peça decorativa de dois dias e a jogamos
fora.
Em dois dias ela recebe elogios e olhares literalmente para
toda a sua vida. Ela é uma vitrine da beleza, os padrões que toda rosa deveria
ter. Sua imediatista beleza se torna imaginação até nas cabeças mais inférteis
possíveis. Só o que se vê é sua beleza – sem história e sem porvir.
Primeira e última vez testemunhada.
Antes, ela não existia, depois disso, também não existirá.
No entanto, a partir daí, se não a arrancarmos de nossos
quintais,
ela passa pelo estágio mais significativo para os lumes que
teimam em testemunhá-la.
Ela passa do estágio daquele aprendiz, idealizador, utópico,
para o educador, o par mais experiente.
Ensina que a vida, para ser completa,
precisa cumprir todas as suas idades, inclusive a do
envelhecimento.
A rosa, delicadamente forte, permite que suas pétalas percam
suas cores,
umidade e flexibilidade, entretanto, sem apressar seu envelhecimento.
Permite que elas caiam uma por uma, ou, às vezes, várias por
vez, mas sem serem arrancadas por mãos humanas, somente pela própria natureza
orgânica e não social, que é sua própria natureza.
Suas pétalas perdem força e só o vento pode arrancá-las e,
quando esmorecem, a brisa também a faz, até que a própria lei da gravidade as
tocam como um último ato da vida-rosa.
Somente uma rosa que consegue cumprir todas essas etapas
pode revelar o real significado de sua existência.
Imagine aquelas rosas, sociais, de nossos quintais!
Se lhes fossem permitidas desenvolver o máximo de seus
potenciais?
Beleza ainda não vista seria, enfim, revelada.
Ale Silva
Escrito em maio de 2016. Editado em 20/08/2016.
Escrito em maio de 2016. Editado em 20/08/2016.