sábado, 20 de agosto de 2016

AS T/ROSAS DE NOSSOS QUINTAIS



Todo objeto da natureza tem seu ciclo. Com a rosa, um dos espécimes que mais sofreu mudanças no reino vegetal, não ocorre o oposto.
Ela é semente, torna-se broto, eclodem raízes, folhas, talo, espinhos e, por último, seu botão desabrocha demonstrando suas pétalas de variadas cores que, após o último estágio, se inicia o seu fenecimento.
A questão é que nem todas as rosas passam por todos as fases que, como parte da natureza, deveriam passar. Muitas delas não desabrocham.
Não falo das rosas produzidas em massa, em campos de concentração, que são comercializadas e, por isso, precisam desabrochar, com uma data demarcada para seu nascimento e morte.
Falo das rosas de nossos quintais. De nossas casas, de nossos dia-a-dia.
Aquelas que, muitas vezes, não temos ciência sobre a sua ciência.
Aquelas que, por vezes, nascem na teimosia, pois ninguém as planejou. Ainda teimam em viver, mesmo que, por vezes, muitos duvidem de que sua existência passaria por mais de um dia e elas vão contrariando qualquer prerrogativa, profecia ou juízo sobre a brevidade de sua vida.
É dessas rosas de que falo e alerto: muitas delas não desabrocham.
Elas morrem como botões, fechados em si mesmos.
Ou por falta de sol, ou por excesso de água ou sombra.
Ou por falta de nutrientes ou excesso de produtos químicos.
Ou ainda simplesmente por falta de cuidados simples, como deixar um espacinho a mais para que elas possam desabrochar.
Elas morrem sufocadas dentro de si. Não conseguem deixar explodir toda a potencialidade existente dentro do botão que as envolve – beleza nula.
Quando, algumas delas conseguem desabrochar, elas surpreendem aqueles que ousam olhá-las e testemunhá-las como o fenômeno mais surpreendente da vida delas.
Suas pétalas surgem evidenciando cores carregadas de vitalidade. Cada pétala que se deixa mostrar é um prazer aos olhos dos que querem ver.

A rosa, ao desabrochar, cresce, e, por fim, deixa-se ver por inteira, até a sua essência que ainda, por certo, guarda cores antes inexistentes às vistas dos mais ousados.
Aí, ela cumpre um dos estágios, aparentemente, mais belos da sua vida.
Alguns de nós, só a enxergamos nesse momento. “Há uma rosa em meu jardim”. E o que fazemos? “Arrancamo-la para decorar nossa sala de estar.
Ela se torna uma peça decorativa de dois dias e a jogamos fora.
Em dois dias ela recebe elogios e olhares literalmente para toda a sua vida. Ela é uma vitrine da beleza, os padrões que toda rosa deveria ter. Sua imediatista beleza se torna imaginação até nas cabeças mais inférteis possíveis. Só o que se vê é sua beleza – sem história e sem porvir.
Primeira e última vez testemunhada.
Antes, ela não existia, depois disso, também não existirá.
No entanto, a partir daí, se não a arrancarmos de nossos quintais,
ela passa pelo estágio mais significativo para os lumes que teimam em testemunhá-la.
Ela passa do estágio daquele aprendiz, idealizador, utópico,
para o educador, o par mais experiente.
Ensina que a vida, para ser completa,
precisa cumprir todas as suas idades, inclusive a do envelhecimento.
A rosa, delicadamente forte, permite que suas pétalas percam suas cores,
umidade e flexibilidade, entretanto, sem apressar seu envelhecimento.
Permite que elas caiam uma por uma, ou, às vezes, várias por vez, mas sem serem arrancadas por mãos humanas, somente pela própria natureza orgânica e não social, que é sua própria natureza.
Suas pétalas perdem força e só o vento pode arrancá-las e, quando esmorecem, a brisa também a faz, até que a própria lei da gravidade as tocam como um último ato da vida-rosa.
Somente uma rosa que consegue cumprir todas essas etapas pode revelar o real significado de sua existência.

Imagine aquelas rosas, sociais, de nossos quintais!
Se lhes fossem permitidas desenvolver o máximo de seus potenciais?
Beleza ainda não vista seria, enfim, revelada.

Ale Silva
Escrito em maio de 2016. Editado em 20/08/2016.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Nossas correntes





O QUE QUEREM DE NÓS?

Uma perfeita anorexia entre revolução e conservadorismo? Anorexia, nesse caso, sinônimo de incógnito, se é que me entende.
Somente muito vinho para aguentar a luta diária entre o conflito de ser e ser quem querem que sejamos.
Quem nunca enfrentou este conflito? Qual o nível de consciência entre o ver e o porvir?
Entre a falácia e o real?
Entre a aparência e a essência?
Entre a aparência de quem reivindica a essência
E a essência que se dissipa na aparência?
 Quanto podemos enxergar de fato, o que somos e o que querem que sejamos?
O quanto somos o que somos e o que somos porque simplesmente nos determinam assim?
 Quantas correntes nos amarram enquanto dormimos?
Quantas correntes nos amarram enquanto pensamos que pensamos?
Ou ainda quantas correntes nos amarram enquanto pensamos que somos revolucionários?
Quantas correntes são prendidas por nós mesmos,
Dadas por nossos algozes e de comum consenso e pseudoliberdade, amarramos em nossos próprios pés?
Eis aí a questão: to be or not to be?
Tão antigo e tão atual quanto esse último mínimo milésimo de segundo a respirar.
Vivemos a ditadura do capitalismo.
Por Alê Silva (26 abril de 2016)


domingo, 17 de abril de 2016

MEMÓRIA E "A CASA DE PEQUENOS CUBINHOS"



MEMÓRIA


Vivendo de memória ou
memórias para viver.
Vivas memórias.
Memórias vivas.
Vida-memória,
Memória da vida.
Quem vive só de memória
Morreu, tão certo
quanto sua memória viva
de um tempo que só existe
no abstrato e no passado.
Embora presente sua memória,
O presente não existe mais.
Só a memória que traz 
a doce ilusão de viver uma vida
que já deixou de viver.

(Alê - 17/04/2016)

Como nossos pais


Carta ao Senhor Futuro